sempre acaba virando um texto sobre outra coisa

esse seria um texto sobre todas as coisas que ainda vão ser mencionadas aqui. agora vai ser um texto sobre todas essas coisas, só que de outro jeito. porque parece que eu me dei ao luxo de ter o direito de não fazer análises formais. apesar de que não é por isso que vou deixar de colocar o meu olhar sobre as coisas. e esse é um movimento que considero sério (e parcial). eu desdobraria cada um dos pontos, as ligações que percebi entre eles, os símbolos que enxerguei, os significados, o que me chamou a atenção. procuraria alguém que me ajudasse a ajustar e sustentar os pensamentos que fossem surgindo. faria daquele jeito que geralmente desperta a sensação de que você não está dizendo o suficiente. 


mas decidi que só quero ter aproveitado mesmo. e mais nada. por exemplo, 'as horas' é um dos meus filmes preferidos.

exercício:

- por quê? 

resposta: porque sim.  



não sei de que jeito o que fica, fica. 

adoro quando leio, assisto ou escuto alguma coisa e lembro de ter visto alguém falar daquilo. às vezes vou atrás de saber, porque gostei do que falaram. não faz muito tempo que reli um comentário que escrevi sobre ‘os maias’. queria colocar um trecho dele aqui, mas não encontro mais. em canto nenhum. essa é a hora de questionar a mania triste de tirar tudo do ar. pode até ser um bom caminho pro desapego, mas ainda pertenço ao plano dos que quase sempre se arrependem. um dia eu esqueço.


lembro um pouquinho do que eu disse lá. desde o momento em que peguei o livro (não sei há quanto tempo) até quando escrevi as impressões finais sobre a leitura, lembrei de rita araújo muitas vezes. comecei a escutar o que ela dizia nos tempos de snapchat. tinha ela, victor, henrique junio, carol, isa, bio.rock e mais um monte de gente. eu passava muito tempo amando ver rita falar das leituras dela, cantar músicas de propagandas antigas e transformar a vida numa narrativa sedutora. sempre admirei a capacidade que ela tem de fazer com que interações virtuais entre estranhos pareçam uma conversa entre amigos.


ela falava muito dos maias. e provavelmente foi nessa época que li ‘o primo basílio’. 


acho que essas podem ser as minhas marcas favoritas. perceber pessoas nas páginas. lembrar delas como quem lembra de alguém com quem conviveu por muito tempo. gente que lê e compartilha de um jeito genuíno, apaixonado, ainda que não tenha gostado do que leu. 


recentemente rita postou no ‘livros que li’ um vídeo sobre o livro mais recente de aline bei. o ‘a pequena coreografia do adeus’. e eu, nesse período de leitura atrapalhada, achei que poderia transformar aquilo num conselho. depois de tanto tempo, rita falando de livros comigo. 


como camilla falou um dia desses, como renata falou, como carol falou, como manie falou.


é engraçado pensar que elas não sabem que fazem parte da construção dessas memórias.  


eu não li o mais novo, mas li ‘o peso do pássaro morto’, que, uns dias depois, descobri ser o objeto de estudo de uma amiga. 

li de um jeito que fazia com que aquilo parecesse uma necessidade urgente. porque era, eu acho. uma leitura impulsiva, como todas as que fiz de uns meses pra cá. nunca consegui entender direito o que significava concentração na vida real, apesar de ser uma pessoa paciente, e agora parece que nem a ideia vaga do conceito existe mais. então, penso que dou um jeito. porque sinto que essa é a minha única chance de continuar indo pra algum lugar.  


tenho lido à noite. e não consigo controlar a pressa doida de quem não quer perder o momento.


então, ontem dei um tempo de leituras pelo celular. dei um tempo de contos, de histórias mais curtas, porque comecei a perceber que essas coisas, principalmente combinadas, faziam com que eu ficasse mais ansiosa e descontrolada em relação à leitura. uma euforia que borrava tudo. eu já sabia que ia deixar passar um bocado de história. antes de ler…como pode?! mas, feito eu disse em algum lugar: paciência! tudo isso, essas manchas na leitura, também fazem parte da experiência.


agora, depois de “grande”, sempre que eu ia tomar banho e fazia xixi no chuveiro pensava "xixi tem cheiro de pipoca". mas nunca em voz alta. pois é, não me sinto mais sozinha nessa. 



os meus dias têm sido monotemáticos. sempre fui um pouco fanática por conexões. coincidências. ligações. fui reler alguns comentários que fiz sobre minhas leituras mais recentes e é só do que falo.  

como a sensação de não saber o suficiente paralisa! ainda que a proposta não seja (conscientemente kkk) a de criar uma verdade absoluta, nem mesmo um debate com dados científicos, muito disso parece vir do lugar da responsabilidade com o que se diz. e mesmo que fosse "sério". esse caminho é de muitas ideias, diálogos, muitos erros, alguns acertos. é de se sentir meio perdida mesmo. e precisamos contar com situações adversas, fazer o quê?! não sabemos de tudo. sabemos de quase nada. e é um negócio que se mistura com a obrigação de perfeição, com uma ideia meio problemática de universalidade, tudo isso. aqui a importância de ter em mente a necessidade de equilíbrio entre a consciência do nosso tamanhico no universo, a noção da nossa individualidade e a forma com que a gente se relaciona com tudo. 


e aí tem também (em um domínio paralelo ao anterior no qual a pressão e o peso do erro têm dimensões MUITO menores): qual o problema em aceitar que algumas coisas são só rabiscos (ou besteiras) subjetivos que têm como propósito mostrar como me senti ou o que pensei quando entrei em contato com o que tá por aí? é muito bom pra lembrar, inclusive! livros, filmes, música, conversas, situações.


mas que coisa esse hábito de inventar preocupação, burocracia, meta mirabolante. a gente precisa entender o momento de parar. entregar pra revisão. bora! 


uma vez encontrei um colega no ônibus. foi bem na época do fenômeno ‘bacurau’. ele perguntou se eu já tinha visto e o que tinha achado do filme. lembro que, já pertinho da minha parada, a gente falou de que muitas vezes dizer que gostou ou que não gostou não é suficiente. assistir ao filme sem listar todos os tópicos abordados e elaborar comentários muitos bem estruturados sobre os aspectos técnicos, sociais, de elenco, não é suficiente. (claro que em determinadas situações algumas pessoas vão precisar fazer isso/e claro que não é proibido fazer sem que isso seja solicitado kkkk). a gente pode só dizer que foi uma experiência divertida de vez em quando? um "achei chato" também funciona.


(as coisas podem, mas nem tudo precisa virar trabalho acadêmico, texto no blog, post nas redes sociais, conversas com amigos virtuais, podcast, vídeo, filme, livro, música. e eu digo isso pra mim mesma. às vezes)


será que se eu encontrasse aline bei um dia, na rua, eu ia dizer a ela que um dos motivos pelos quais gostei do livro dela é que foi muito reconfortante ler que lucas achava que xixi tinha cheiro de pipoca?



"a bete sempre ria das invenções dele, eu nem imaginava que o lucas era
criativo, não na minha frente,
então ela
me contou um dia, depois que cheguei do trabalho:

       – o lucas disse que xixi tem cheiro de pipoca."


(trecho d'o peso do pássaro morto, aline bei)


escrevo, escrevo e escrevo. tudo tem um fim e nada tem um fim ao mesmo tempo. mas, aquilo, naquele espaço, que comporta, materialmente, apenas uma quantidade limitada de palavras, precisa caber em algumas páginas. mas pode se transformar em muitas outras coisas fora dali, a partir das conexões. uma hora a gente vai ter que parar de escrever. colocar um ponto final (dependendo da ousadia kk uma vírgula ou nada). não temos acesso a todo o conhecimento. muito menos a todas as vivências e pensamentos. depois do corte a gente ainda pode ter muito o que dizer. e parece que dá pra falar depois. a gente pode conhecer muito. a gente pode falar ATÉ MORRER. 


vi thiago falando numa live. daquela sensação irritante de que deveria estar assistindo mais, lendo mais, escutando mais. pra acrescentar. pra, talvez, conhecer alguma coisa que pudesse contradizer ou apresentar um melhor argumento pra o que ele tinha elaborado antes. vi  jana falando da insegurança do fazer. vi marisa falando de sucesso. tudo isso em menos de uma semana. tem a ver com o que eu tô falando aqui?


não dá pra se pretender perfeita. nem um diário, um caderninho no qual você só escreve pra você mesma, cabe na categoria estranha do que tem fim em si mesmo. são muitas direções, interpretações, pessoas. 


“Não há mundo perfeito, não há post perfeito, não há ideia q não receba críticas. Com o tempo, você aprende a ponderar o q vale a pena, o que vai ajudar você a seguir se desenvolvendo, a aprimorar o que se propôs a fazer, quais arestas aparar, qual conhecimento aprofundar.”


  
faixa: viðrar vel til loftárása
álbum: ágætis byrjun
banda: sigur rós
ano: 1999

o peso do pássaro morto.

o pássaro morto em ‘as horas’.

o pássaro morto na varanda de ulisses.

eu pensando que fosse ter um piripaque escutando sigur rós.

o impacto físico que essas experiências podem causar. 

como é o nome daquela sensação de presença, um calor alheio ao seu redor? parece a estática da tv. viro pra trás o tempo todo pra ver se tem alguém. 


eu só escreveria quando entendesse. mas preciso mesmo entender? deve dar pra escrever sobre tudo enquanto tudo tá acontecendo. ou só deixar passar.


eu esperaria. e esperaria.  


esperaria até que eu tivesse lido 'mrs. dalloway'. até que eu tivesse lido impressões, análises e artigos sobre o filme 'as horas'. até que eu tivesse lido o livro que baseou o filme. que eu esbarrasse com pessoas que estruturaram ideias parecidas com as minhas. mais uma referência. mais um ponto de partida. assistir de novo, pensando em outras coisas. 

 

e acharia o rascunho bem ruim.


ninguém pediu.


talvez não sejamos tão raros. ano passado li ‘kitchen’ e logo depois li o ‘minha querida sputnik’. fui até o skoob e vi que uma pessoa tinha feito o mesmo caminho que eu. 


gosto quando acontece sem aviso. como quando a história de ‘la casa de los espíritus’ se encontra com a do ‘peso do pássaro morto’. vi isso em vento. não conheço aline bei. não pesquisei o processo de criação dela. e gosto de pensar que fiz esse caminho por acaso. que as conexões podem parecer aleatórias ou que têm um propósito preestabelecido. depois eu procuro saber. mas isso não pretende ser informativo. vi que algumas pessoas falam das playlists que ela faz. primeiro eu queria ouvir o que ela fala sem a ajuda de outros canais. algum dia vai acabar acontecendo. 


tenho esse comportamento de literatura comparada. espero estar usando o termo no lugar certo. é uma lógica material que as coisas acabem se cruzando quando compartilham o mesmo espaço? nesse caso, o espaço sou eu. é a minha cabeça. o meu estômago que se contorce como se eu tivesse brigando ou vendo alguém brigar. é nesse lugar que acontece a distribuição de sentido. 


"será que esse pequeno pássaro estava apenas procurando algum lugar tranquilo em que pudesse passar suas últimas horas de vida ou quis, também, de algum modo, com o que lhe restava de vida até mesmo me dizer algo sobre a minha própria vida?"


pode ser que essa sintonia seja um sinal de que ninguém é completamente diferente do outro. processamos as mesmas coisas de maneiras diferentes. às vezes MUITO diferentes. ainda assim são as mesmas coisas. é mais bonito falar de sintonia. sendo sincera: me sinto igual a uma youtuber que se coloca em cenas de filmes da disney. o bizarro é quando o filme deixa de ser high school musical.  


sei lá, talvez eu precise me dar ao luxo de não analisar.


Comentários

  1. xixi tem cheiro de pipoca mesmo!!! eu acho que tem cheiro de pipoca doce, aquela que a gente compra em saquinhos lilás. meu deus, como é engraçado dizer e compartilhar pensamentos que a gente só tem em silêncio.

    "como a sensação de não saber o suficiente paralisa!", disse você e também eu mesma, sempre que vejo alguém usando alguma referência e penso que parece que não sei mais nada, que não existe uma informação interessante na minha cabeça. a gente procura coisas interessantes nos outros e acho que isso acontece com a gente, também — precisamos ser interessantes pra nós mesmos. faz todo o sentido, e não faz sentido nenhum.

    eu gosto demais de te ler, e acho que quero comentar só pra registrar que li, porque dá vontade de deitar e deixar suas palavras flutuarem no teto à minha volta. é bom pensar. é bom ver outro alguém pensar e misturar tudo feito sopa de letrinhas. não precisa ser muito, nem tanto: só é bom.

    beijinhos, maria. <3

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