don't expect any answers, dear...

...for i know that they don't come with age, no, no

passei dias antes do meu aniversário pensando no que eu poderia escrever sobre quem sou agora, como estou me sentindo. todo ano é assim. e como é custoso esse processo! além de inventar e acreditar na obrigação de resolver tudo até o dia 6, também preciso achar um jeito de organizar um momento específico da vida em palavras. e publicar. não com o objetivo de que as pessoas vejam, isso é mais uma consequência, mas pra que eu sinta que estou fazendo registros em algum lugar físico que não seja o meu diário. porque ele é muito sintético, apesar de tudo. no computador escrevo mais rápido e, por isso, perco menos linhas de raciocínio e consigo ver as cenas se formando numa tela mais ampla. e eu sei que tenho problemas com edições duradouras. já não termino nada, então... 

existe essa expectativa bem comum de querer ter uma idade que aparece em tal música, né? fiquei muito feliz quando fiz dezessete, por exemplo. eu amo abba. 

mas é aquilo, chegou o dia 6 e eu precisei fazer uma playlist pra ter coragem de sair de casa. dei risada com amigos que não sabiam que era o meu aniversário (também não contei). e, não sei porque, uma música não saía da minha cabeça. na verdade eu sei. poder, finalmente, ser a dancing queen é muito diferente de saber lidar com o tempo lhe dizendo que não importa o que você faça, em algum momento as coisas vão dar errado.

eu também queria ter 25 anos e dizer que a kozmic blues de janis era minha. e por muito tempo isso foi a coisa mais empolgante de fazer aniversário. até que os 25 chegaram...

até que os 26 chegaram...

e lembrei da música.


li em algum lugar que ela não falava de ter 25 anos, apesar de ter escrito kozmic blues quando tinha mais ou menos essa idade. mas foi assim que eu vi. e choro com essa música desde os meus 15. ninguém merece, janis. por favor.  

em 2023 vai fazer 10 anos que criei um blog chamado kozmic blues. meu fanatismo sempre foi desorganizado. eu direcionava, e acho que ainda sou assim, tudo o que podia pra pedaços de qualquer coisa que admitisse meu interesse e não procurava saber mais além do que aquilo causava em mim. pelo menos não de forma planejada. ia descobrindo histórias por acaso, aos sustos. às vezes, quando queria escrever sobre ou cansava desse modo de agir aleatório, sentava na frente do computador e pesquisava. um conhecimento todo mal estruturado, uma agonia. perco muitas coisas por causa disso. só que às vezes a surpresa tardia é uma ótima sensação. 

ainda sinto o kozmic como uma entidade que ronda principalmente o meu quarto. na verdade, talvez o gabinetes espaciales seja o kozmic que quis falar mais de si mesmo do que dos outros. 

e aí é que tá (como diz minha amiga carolina).

há alguns meses comentei isso no meus cafés

"[...] voltar aqui e reler o teu texto me fez pensar em algumas coisas. bem no início da pandemia eu ficava falando que o que ia pegar pra mim era saber que as outras pessoas também não estavam “””vivendo suas vidas”””. porque eu penso que, pra mim, basta ver os outros fazendo suas coisas. o alívio que eu senti hoje quando minha irmã pôde visitar uma amiga…não sei direito o que é isso. esses dias tive um pensamento estranho. que a necessidade urgente que eu pensava ter sobre me abrir mais pra vida não existia mais."

que negócio triste de se ler, na moral. não faz sentido.

eu posso até imaginar os pensamentos sobre mim. não que estejam a todo o tempo acontecendo. mas acontecem se tiver algum tipo de estímulo. quando, por exemplo, alguém pergunta "qual o seu sentimento sobre aquela pessoa agora?". e, nesse caso, a pessoa sou eu. meu aniversário desse ano foi o mais diferente de todos os outros de que me lembro. porque entrei em um conflito sério comigo mesma. fiquei fissurada pela minha responsabilidade no modo que me apresento na vida das pessoas que se relacionam comigo. as mais próximas. e essa conversa nem chega perto da ideia de que a gente tem controle sobre o que os outros acham de nós, sentem em relação a nós. mas que nossas atitudes podem justificar certas posturas de outras pessoas em relação a nós. eu sei que estou ausente. de tudo. e percebi isso lendo algumas mensagens. foram as confirmações. não me senti exatamente péssima, porque sei que é isso que eu posso dar agora. e eu tenho amigos que não me deixam sumir. mas não gosto de fazer as pessoas esperarem demais. 

faço aniversário no mesmo dia que meu pai. ainda bem. ah, david gilmour também nasceu em um 6 de março. eu costumava ficar feliz com isso, mas agora não sei. ele falou umas coisas que, rapaz...

são 300 dias pra o ano acabar, geralmente. 

antes dessa conta comecei a usar a agenda que ganhei e ela mais parece um death note. tudo o que eu anoto não faço. ou é desmarcado. ou dá errado. 


lembro exatamente do dia em que eu soube que era uma pessoa melancólica. e é um caminho sem volta. estava no segundo ano do ensino médio e já parecia com quem sou hoje. sempre tive a sensação de que não mudo. ficava a manhã e a tarde na escola. às vezes chegava em casa e ia direto ao centro espírita com meus avós. a novela das 18h me deixava muito triste. 

esse ano precisei lidar de uma vez com todas as verdades difíceis que eu vinha encarando aos poucos. e não levei pra um bom lado o que vi. mas pelo menos entendi porque me sinto tão estranha em relação a fazer aniversário. é que, pra mim, tenho que continuar naquele lugar, naquele ano, com aquela idade. é o certo. talvez seja porque eu não tenha sido tudo o que poderia ser e depois já não posso mais. e não que eu tenha medo ou não goste de mudanças. provavelmente ou eu me acostumo ou eu definitivamente não sei lidar com finais ou abrir mão do pouco que eu fui em um espaço de tempo contado.

será que não tinha outra parte da adolescência? porque voltei a escutar o lado b de coldplay todos os dias.

nem as mensagens mais bonitas. principalmente elas. 

do nada tô esquecendo de onde estive. 

e nem quero falar dos 27.

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