Meu limite é aqui, infelizmente: entre razões e emoções :(:


O compartilhamento de música aqui em casa acontece de dois jeitos. Um é a escuta coletiva (na sala, na mesa, em festa, em encontros marcados…), quando a escolha é unânime, o volume do gostar da banda/artista é parecido, mesmo existindo a parte do relacionamento individual com aquelas músicas. A tietagem é colaborativa, todo mundo criando o papel do artista na nossa vida. No outro jeito a banda começa como uma propriedade privada, de uma pessoa só e, depois, com o tempo, é anunciada e aí chega junto quem quiser. É engraçado perceber o momento em que o som antes só tocado nos cantos mais undergrounds de casa, passa a ser cantarolado em público, exibido na tv, no celular, no rádio. As chances de virar um caso de escuta coletiva são grandes. Exemplos: compartilhamos, todas, grandes amores por Stevie Wonder. Por Ana Carolina, claro. Painho ouviu gritar e virou fã de Jeff Buckley. E mainha, com uma certa demora, agora é fã de NX Zero. Isso pode ter um pouco a ver com o fato de eu não calar a boca um segundo 😬!

E o alívio que o registro causa?

Sou uma pessoa tensa.

Não vejo a hora de usar a desculpa da possibilidade de reviver, quando a verdade é que só consigo assimilar se escrever - ou encher o saco de mainha falando do mesmo assunto eternamente.

De novo perdi a hora. Comecei esse rascunho no dia 8 de agosto. Há mais de um mês escrevi que tava sentindo que, finalmente, iria conseguir levar a vida sendo um pouco mais razoável em relação ao assunto. Porque eu passei um mês cortando o cabelo. Raspei e acho que já é um bom limite, antes da gillette.

Tudo muda muito o tempo todo. E continuo obcecada. 

Tentei, juro!, lembrar de pegar o celular no bolso, ignorar a qualidade da câmera e tirar fotos e gravar o palco, provar que cumpro os critérios dos novos jornalistas.

Mas, cara…

O efeito que esse show teve sobre mim: eu não tava esperando. E quis muito transformar essa bagunça em algo que eu pudesse olhar e entender, pelo menos um pouquinho. Por isso demorei tanto pra provavelmente ficar andando em círculos como sempre. Talvez, fazendo o que faço, eu transforme tudo em algo muito maior do que é. Mas é que em situações fora do meu controle costumo dissociar. Consigo até escutar agora a minha voz "volta! volta! volta!". Então, a hora de pensar sobre aquilo dias, meses depois, o que é o caso, é muito importante para que eu consiga viver melhor. Sem brincadeira.

Fico tão fissurada por estar presente no momento, por poder sentir com consciência (o que geralmente não acontece em estados de euforia - riso histérico, feito Branco Mello canta), que quando percebo as lacunas, acabou-se!!!

Tá explicado o porquê de eu sair enfiando exclamação em todo canto. Não aceito muito bem a ideia de estar me despedindo de tudo o tempo todo!!!


O título desse post é bem ruim - porque se for investigar, talvez minha carteirinha de emo seja falsa. Mas encontrei pessoas que me ofereceram orações pra que eu alcançasse a graça de ir ao I Wanna Be Tour.

@mari.ilustra

Vai ser no dia 6 de março, em Recife.

Minha irmã mandou mensagem com o cartaz do show e um comentário: “presente de aniversário! :O”.

Chato dizer que eu só pensava: meu deus, não para de acontecer coisas e eu ainda preciso falar do show de NX (que foi no começo de agosto). Tudo girando em torno disso. Não vou pra turnê. Iria pelos BRs. Mas percebi que não preciso de mais um show pra entender tudo (apesar de que eu ficaria muito feliz se pudesse, talvez, escutar Apenas Um Olhar ao vivo de novo, sei lá heheh eu preciso de mais um).


Eu e minha irmã já conversamos algumas vezes sobre não fazer questão de ter objetos relacionados ao que a gente gostava (isso pode beirar um pouco a displicência se reparar direito). Uma vontade ou outra dessa apareceu a gente já era mais velha.

Só que aí a pessoa começa a refletir sobre a indústria cultural. Fica com medo e compra um broche, um copo, um cordão. Que supostamente servem como o acesso mental ao momento; acesso que ignora questões de espaço-tempo. E como não existe mais a distância charmosa entre o fazer e o conhecer da música, três meses também parecem nada. Agora mesmo eu tô olhando nos olhos de Fi ❤️.


Simplesmente fomos expostas à curadoria musical espontânea que acontecia ao nosso redor. Sabemos exatamente onde está guardada a lembrança daquela música do Para Sempre: Dalto; o nosso CD (o verde ou o azul) de Zezé di Camargo e Luciano que a gente gostava mais; a faixa do As Quatro Estações (de Sandy e Júnior, não de Legião) que me fazia chorar sem parar; lembramos do que era a vida quando o Acústico de Lulu Santos não saía da televisão; de quando mainha conseguiu recuperar o DVD do RBD. Decoramos a discografia inteira de Nelson Gonçalves e de Noite Ilustrada. Ficou gravado na memória Renato Russo cantando italiano na sala ou na casa ao lado. O Memórias, Crônicas e Declarações de Amor ao vivo. Também a capa do CD de Rita Lee. Os compilados de músicas dos anos 1970 e 1980 que escutamos no carro de vovô. Não sai da cabeça o constrangimento atrasado de decorar a defesa que eu faria, explicando o motivo pelo qual aquele CD que tava na minha bolsa merecia ser escutado às 6h da manhã, no transporte escolar. Não posso escutar o Pagode do Exalta sem lembrar da época da catapora. Nem pensar na minha infância sem os bregas românticos recifenses que tocavam no centro da cidade, na casa de vovó, na casa dos vizinhos do lado, na esquina.

Se for pra falar de música, esses objetos são, pra mim, os portais certos.

Apesar de não fazer questão de ter, a gente aproveitava muito o momento. Sem precisar compartilhar senhas, o negócio era pegar emprestado e emprestar os CDs e DVDs. Ouvindo as recomendações e a propaganda do que tava ali gravado. Lembro com carinho especial do One Night Only, dos Bee Gees; e do filme Freddy x Jason que Nandinha me emprestou e que ficou comigo por quase um ano. O filme de terror até hoje não vi todo, mas o show dos Bee Gees...


E aí, em 2008, o NX Zero lançou o álbum Agora. Minha irmã e Bella (BFFs) compraram, num carrinho de som que contemplava (como nada mais o fará) a diversidade da música brasileira, o precioso CD que arranhou de tanto a gente escutar.

A nossa vida era sentar na rede (uma verde e branca, bonita e desconfortável pra caramba, que vovô tinha feito do mesmo jeito que fazia as redes de pesca) durante horas e horas, repetindo Entre nós dois e Silêncio no radinho preto de titia, até enjoar (o que é mais conhecido como mainha dizer "já tá bom aí, né?"). Não tenho muitas memórias que cheguem perto dessa.

A rede era essa, só que 5 anos mais velha 🥰

Algumas mais que outras, as músicas meio que são essas lembranças (às vezes projetadas) descritas de um jeito compatível com qualquer órgão nosso que seja responsável por processar APENAS grandes emoções. O estômago? Talvez. Que de outra forma não seria possível resgatar! Gatilhos, atalhos, portais...o que for!

Acho que nem Bella tem mais o CD.

E se num terrível dia a galera das plataformas de streaming de música acordar pensando que não é mais tão bacana ter certos artistas por lá (como acontece)? Se você não tem a mídia física > não tem acesso > a música não existe mais pra você. Simplesmente todos os dias esse pavor me acompanha. E também a gratidão ao rapaz que julgou importante ter a representatividade emo no seu catálogo. Alguém já foi procurar os preços desses álbuns “antigos”?


Normalmente quem não é cool parece repetitivo. Acho que já falei disso em outra ocasião. Mas o contratempo de demorar a escrever sobre um acontecimento é que o tempo tem uma memória que, caramba! Milhares de novos significados por segundo. Não tem como acompanhar.

Por causa disso percebi, por exemplo, que a banda falar as mesmas coisas em todos os shows, ou, sei lá, não se ligar mais nas diferenças das histórias que chegam até lá: não me importa tanto assim. O negócio é como pego pra mim.

É difícil perceber a nostalgia; angústia e alegria ao mesmo tempo. O famoso happy/sad do The Cure (?) E, pra mim, pensar na adolescência, que é uma coisa comum quando se vive experiências desse tipo, não é olhar pra um período isolado de todo o resto. É tentar lidar com a continuidade. Acho que deveria ter sido tempo de desbravamento, não foi! Mas lembro de que foi uma época em que eu ia vivendo enquanto me observava com intensidade. Talvez por isso eu lembre com muito mais nitidez de como tava me sentindo aos 17 do que aos 25. Bate a saudade da sensação. Seja memória ou invenção.

Eu sempre fui a responsável (careta? espírito de anciã? séria?) do grupinho.

Minha irmã postou uma foto nossa antes de ir pro show e falaram muito do meu cabelo. Tipo elogios. Quando eu acordei no outro dia, passei a tesoura (Você cortou os seus cabelos? x.X oh yeah yeah).

Faz um tempo que me olho no espelho e acho a minha cara estranha. Pode ser porque fico procurando, sem método, por qualquer coisa que me comova! Isso deixa você um pouco desfigurado.

E aí, se ser emo for esse negócio de não fazer pouco caso do que sente, eu tô dentro. (E aqui não confundo com se levar a sério demais, é outra história). Enlouquecer tentando fazer com que alguém entenda. Nisso eu tô ligada!

Porque depois a galera consegue a ~tristeza~ de transformar tudo em uma performance pro outro. Nesse caso, sou meio perdida. Não tenho tantas memórias da MTV além do que meus amigos comentavam no transporte escolar. Estilo de cabelo, nada. Roupa, piorou. (Inclusive, meu deus, até hoje tenho sonhos recorrentes com inadequação e geralmente tem a ver com o que tô vestindo).


Fui a poucos shows na vida. Mas comprovo mais e mais que sou um desastre em ser fã de artista vivo! Porque é muito mais difícil se adaptar ao tempo real. Tô aprendendo aos poucos a estar no mesmo espaço que essa galera sem tanto constrangimento.


Eu me encaixo na velha história sem graça e previsível. Sabe aquele site que detona o seu gosto musical? Pronto. Ahhh, não diga que você é fã de Radiohead?!?!?!? Tem essa coisa, né? Depende de como a pessoa conta a história. Às vezes invento umas mirabolantes que acho o máximo!

Gosto de música que faz o corpo dar uma pirada. Quando dá vontade de raspar o cabelo!

E nesses casos, a sensação raramente tem a ver com o que as letras dizem. [E aqui nem vou entrar no assunto de que se conectar com a arte é se reconhecer ali de maneira objetiva. Eu pelo menos não espero desvendar os mistérios de ninguém].

Ah, pô, teve uma menina que achou ruim que a gente tivesse cantando alto, sem vergonha. O que ela queria, velho? E aí Di, o Ferrero, olhou diretamente pro nosso quadrante e disse que a gente tinha jogado fora os dias, os meses. Jamais, Di! JAMAIS! Gritamos! Primeira voz. E segunda voz.

Poder, finalmente, viver isso! Ridículo e deliciosooo!!!

É só depois de um show de NX Zero que minha vó liga e diz que ficou muito feliz: porque eu usei “uma blusinha curtinha, justinha, sem mangas” 🤭


Acho que tão importante quanto saber do que não gosta é saber do que gosta. E nem sempre a sensação maravilhosa de se dar conta do quanto ama algo pode ser explicada. Mas é uma onda lembrar das histórias.

Depois de tentar tanto criar um panorama completo, lidando com as intervenções da vida acontecendo, a melhor imagem, a que mais me importa, é a de quem tava comigo lá. Meio jegue dizer que esse show mudou minha percepção sobre algumas coisas. Agora os integrantes da banda entram pro grupo. Ao vivo! Só agora. E é um impacto! Um choque entre universos paralelos. Não esperava que fosse me afetar do jeito que me afetou. Foi um tipo de rompimento, sei lá. Di, a Maria, perdeu o coração que tava pendurado no pescoço dela. Meu anel quebrou. Efeitos do encontro de duas realidades que coexistiram por muito tempo.

NX Zero me fez feliz pra caramba! E prazer com culpa é o caralho!

Isso é combustível! Talvez um pouco mais intenso por ter sido a primeira vez (não quero falar de causas políticas/sociais). Cantar junto essas letras todas pra frente, meio conselhos, meio...fáceis/boas de gritar! No ritmo do pulo! Da cabeça batendo (recomendo fazer isso de cabeça raspada pelo menos uma vez na vida). Discursos simples. Dramáticos. Sinceros. Diretos. Até bobos. Do tipo bora? E aí corta cabelo, fala com gente, dá conselhos a amigos, canta o dia todo, faz o que dá vontade, renova os crushes platônicos que, com certeza, são o suficiente. Não é exagero dizer que tem a ver com querer viver! E é foda poder continuar descobrindo. É bom se apegar às coisas de vez em quando. Acho que nada que faça alguém pensar, por um momentinho que seja, “massa estar vivo!”, é uma coisa qualquer.

Um show só dá?



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