Be here now • O constrangimento e a coragem de dizer
“Queria que referências importantes pra mim não estivessem no meio de um texto que termino [?] de escrever tão irritada”.
"Patti Smith gives a spoken-word performance at Lollapalooza in New York in 1995". |
Era a primeira linha do que estava escrito no rascunho original.
Eu nem desconfiava mais.
Quando o mesmo sentimento me fez voltar.
Lembro de todas as dores de cabeça que arrumei por ter dito num tempo complicado, por ter dito demais, por não ter dito, por não terem escutado.
Penso no que poderia ter sido arranjado, esclarecido e, principalmente, ignorado.Não sei direito porque o nome é “Be here now”.
Poderia ser "Casual Conversations". Aquela parte:
It doesn't matter what I say
You never listen, anyway
Ou aquela:
Casual conversations, how they bore me
Yeah, they go on and on, endlessly
No matter what I say, you'll ignore me anyway
Na segunda metade do primeiro mês de 2025 começo a aceitar o que parece ir além da hesitação e me faz desistir de falar - sem culpa.
Uma vida de querer e tentar cobrir, sempre, ali no texto, todas as possibilidades do que eu quero dizer, do que eu quero/preciso que entendam, do que eu quero que me respondam - espremeu tanto, mas tanto, o meu espírito. Me meti em cada invenção.
Por esses dias, enquanto escrevia besteiras num canto de papel ou de tela, pensava: já pensou eu morro e alguém acha isso?! …haha…
Já pensou alguém triste porque um monte de rascunho ficou sem um final que valesse a pena?
Tudo por dizer.
O tempo que a gente tem é o tempo que a gente encara nos olhos.
O resto…
Hoje quis apagar todas as palavras que estavam aqui antes, porque já não eram nada.
Exemplos caros demais como fundação de situações com realidades vergonhosas, acontecendo fora e dentro da minha cabeça.
Tudo que, quando saiu, significou muito, muito menos. Eu também menor, por isso (que coisa mais idiota).
Todos os dias tento pensar em como explicar, na maioria das vezes pra mim mesma, alguns aspectos do que me faz. Essência, personalidade, o caramba. Percebi que me apavoro se um bem material (-exceto casas) me prende de alguma forma. Como a preocupação sobre um carro ou uma bicicleta estacionados naquela rua esquisita. E que essa sensação poderia ser uma boa explicação pra o fato de eu não ser apegada a bens materiais. Mas como? A companhia de um livro, o objeto, me deixa mais tranquila pra sair de casa (mesmo eu sabendo que nunca vou tirá-lo da bolsa na rua). Como digo que dou nome próprio a roupas, acessórios, xícaras?
Como se diz?
Em novembro do ano passado fez vinte anos da morte do meu avô. Não foi nem que achei uma boa ideia escrever sobre ele quando uma professora disse “faça uma crônica pessoal”, uma história que tivesse acontecido enquanto eu era criança. A morte dele, apenas ela!, apareceu, imperativa, sem precisar da lembrança de aniversários. E foi tão difícil. Saudade, descobertas, medo, enquanto escrevia. Além de uma sensação inconveniente de sacrilégio. Não consegui terminar. Desisti da disciplina. Parei aqui.
São horas, dias, mais de ano.
Escrever é o que me deixa viver, seguir.
Vou tentando entender que, do mesmo jeito, o silêncio.
O silêncio-paz.
Dominar o universo de abertura e de fechamento da matraca.
E manter a calma quando a palavra e o silêncio não parecerem suficientes.
Como aceitar que é muito difícil se explicar.
Que custa tudo mostrar o que tá ligado ao seu jeito de existir.
Suas referências, seus encontros, suas respostas no outro.
Daí a minha chateação por ver no meio de um desabafo rabugento (o rascunho antigo) as imagens de momentos que desde o instante em que os reconheci ficaram grudados no meu coração e memória.
Meu sonho era criar um campo bem bonito, uma moldura, pra concentrar tudo isso num lugar pra onde eu pudesse olhar e sentir que não havia mais nada a dizer.
Olhando direitinho, o que eu disse antes...pra quê?
1. Patti Smith na cerimônia do Nobel de Literatura (2016)
Perder o medo de dizer a verdade.
2. Entrevista com Tamino Amir
"I'm really introvert",
"Medo de dizer alguma coisa idiota?", "Well, what is there to say? That mainly".
3. Patti e Jeff Buckley
Quem faz com que a gente se sinta confiante?
saiu da vida pública em 1979 e voltou em 1995
lollapalooza em ny
nervosa, como não costuma ficar
as pessoas, super atenciosas
tudo tava indo bem, até que num certo momento: ela congelou
my emotions got the better on me e ela sentiu que não conseguiria terminar a música
não sabia o que fazer
o público era grande
do nada, à sua esquerda, ela sentiu uma energia
olhou,
tinha um garoto, de pé, ao lado do palco
ele, fisicamente perceptível, concentrado nela
e tão movido pela performance
o que a ajudou a voltar a si e finalizar a música
ela não sabia quem era o menino
mas disse a ele como estava grata
ele foi tão acolhedor e tão afetuoso
ela era uma estranha, ele não a conhecia, ela também não o conhecia
ainda assim ele abriu mão de si mesmo para ajudá-la a seguir em frente
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