um perfil literário

nessa de aceitar e conviver com uma memória esquecedora ou que seleciona e tende pra um lado meio doido, não muito pragmático, vi a necessidade de elaborar espaços nos quais eu pudesse guardar alguns pensamentos que imaginasse importantes. no caso dos livros, eu fazia isso no meu "perfil pessoal" do instagram, porque considerava a leitura como parte fundamental da minha vida, não ia fazer mal. claro. acho que essas coisas não se separam. mas depois, considerando o meu péssimo manejo com redes sociais, fui ficando com agonia. de saco cheio. apaguei tudo. apaguei conta. depois de um tempão criei uma só pra falar de livros, desconsiderando o meu péssimo manejo com redes sociais. um lugar no qual eu conversava comigo mesma sobre o que lia. mas também gostava da possibilidade de trocar ideia com outras pessoas. 

eu tinha a sensação de que não era por ali, mas me baseava naquele direito às tentativas, aos novos começos, às possibilidades, mesmo que já escancaradamente fadadas ao fracasso total (no que diz respeito a certos objetivos kkkj). forcei a barra sem saber lidar com ela. 

tentei dar vários tempos, mas detestava a sensação de não estar usando o perfil e ele continuar lá, existindo de alguma forma. aquele velho status 'ausente'. stand-by de rede social é o terror no meu mundo. prefiro excluir tudo. 

achava que trocar de user ou de foto ia fazer com que eu, finalmente, me adequasse à plataforma. e uma coisa muito ruim era que eu questionava o tempo todo o jeito como escrevia. aquilo de achar tudo horrível. de me achar uma dissimulada no modo de falar. e ter vergonha! quando relia os posts só sabia discordar. isso ainda sem tomar como parâmetro o engajamento. mas os outros estavam lá, apesar de serem poucos. querendo ou não querendo aquele é um lugar no qual a exposição é um pressuposto que é jogado na sua cara. é meio assustadora a consciência de que pessoas podem ver o que você faz sem que você saiba, e além de tudo, além de quantidade, o negócio da perspectiva que é totalmente única e individual. 

caramba!, desvirtuava totalmente o propósito do negócio. nada durava.  


postava mais ou menos uns três textos de uma vez. os maias foi o primeiro. a fantástica vida breve de oscar wao, um dos últimos. desativei temporariamente. 

foi quando voltei a usar o skoob com mais frequência. no começo de maio desse ano. quis ajeitar a bagunça, terminei apagando o histórico de alguns livros sem querer, fiquei chateada, apaguei o resto de propósito e comecei tudo de novo. podendo contar só com as minhas modestas, e ótimas, cinco leituras de 2019. percebi que o skoob supria com tranquilidade as minhas necessidades em relação a documentar coisas sobre leituras. a questão da interação foi o ponto principal que me fez enxergar isso. a possibilidade de trocar ideia com outras pessoas; de descobrir livros novos, diferentes, distantes, dos quais você não saberia se não fosse por lá; e de, eventualmente, esbarrar com umas almas gêmeas literárias. 


essas são as três postagens depois da última retomada fracassada. dessa vez eu jurava que ia. pero, não foi. sei lá, não tem nada que obrigue a gente. mas fica uma ideia fixa nada a ver na mente, um apego insistente a uma burocracia imaginária. chata! que coisa. 

não faz sentido. mas também não garanto nada.

1."meu cabelo tá a dois dedos do de charly e eu pensando em como tenho conhecido boas playlists argentinas. ontem apareceu pra mim o 'espíritu setentista'. de caráter mais oficial. às 3am de uma sexta. repeti várias vezes até entender o tom. li sobre a música hoje. é coisa de uma vida em quinze minutos. não sei como consegue."

16 de maio de 2020

2."a verdade é que eu soube de oscar wao há uma vida atrás. e meu encontro com patti agora marcou o início do que ainda não sabemos como chamar. foram conversas longas. irreproduzíveis. naquela parte da madrugada. pré sonhos. durante muitos dias. patti smith sempre me deixa sem palavras enquanto existe simplesmente em um mundo real. ostensivo e esotérico ao mesmo tempo. tem uma coisa de amizade sigilosa. de preciosidade. a experiência de perceber o coração se transformando. dos reencontros com tudo o que somos. com o irreconhecível. não consigo acompanhar os pensamentos. talvez tente fazer uma lista melhor."



16 de maio de 2020


3."há dez dias eu terminei de ler 'minha querida sputnik'!?!?? meu primeiro contato de verdade com haruki murakami. foi dessas experiências que fazem a gente confundir livro e vida várias vezes. pedaços que esclarecem principalmente percepções que antes pareciam besteira. estranhamente. mas ainda não consegui me colocar nesse espaço de mentes tão mais caóticas. traduzir qualquer coisa pra um plano externo tem exigido um esforço bizarro. já não sou boa em organizar qualquer impressão mais "palpável" sobre uma leitura em outras circunstâncias. agora...nem digo! nem digo mesmo! vou ter que me contentar com anotações soltas. sobretudo mentais. vai saber se lá na frente vou entender isso."



17 de maio de 2020

¡adiós gabinetes espaciales ig!

*na verdade, acho que tudo começa a perder a graça quando a gente tá tentando assimilar essa realidade debilitada. tudo começa a parecer adiável. irrelevante. bobo. 

Comentários

  1. Maria, espero que veja esse comentário!

    Eu sempre me acho louca. Principalmente nesse negócio relacionado a redes sociais, e tudo que você descreveu se passa exatamente da mesma maneira comigo.
    Eu me sinto ameaçada, vigiada, perseguida quando estou com minhas redes sociais ativas. Eu não sei como e nem quando criei esse pensamento e como isso cresceu tanto em mim, mas as vezes chega a ser incômodo. E olha que eu não tenho muito seguidores, amigos, pessoas que "tenham interesse" em me stalkear, mas mesmo assim esse sentimento existe.

    Eu amei seu blog e a maneira com que você escreve. Acredito que, se a gente conversasse em algum momento, muitas de nossas loucuras se encaixariam.

    Abraços, de uma Maria também. <3

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. oi, maju! ainda bem que vi seu comentário! a gente sempre acha que nossas loucuras são só nossas até encontrar com alguém que descreve exatamente como a gente se sente, num é?! acho que existem mais pessoas sentindo parecido com a gente do que dá pra imaginar.

      tava lendo um post no blog da aline valek sobre estar velha pras redes sociais, vai saber hahaha tem que ver se vale a pena. daqui, acho que nem insisto mais.

      brigada por ter tirado um tempinho pra comentar por aqui. fico feliz! muito o que conversar! hahah abraços! <3

      Excluir
  2. meu deus, eu poderia ter escrito esse texto! minha relação com o instagram é muito conflituosa. gostaria de simplesmente enxergá-lo como uma ferramenta, algo deboas que tá ali pra quando eu quiser compartilhar umas fotos, umas reflexões, mas tem dia que eu me questiono demais (a ponto de desativar, sumir por uns dias...) e isso também cansa, sabe? esse pensar exagerado.
    às vezes eu acho que tenho um potencial muito grande nas mãos, mas aproveito pouco dele. por outro lado, não sei se eu ia gostar de aproveitá-lo mais do que eu já faço. eu tenho um perfil pessoal, onde falo de livros de vez em quando de forma despretensiosa. mas a sensação que dá é que nos dias atuais não há mais espaço para despretensão. eu acho chato comentários do tipo 'quero muito ler' em um post de livro que demorei horas pra escrever, mas ao mesmo tempo fico feliz por aquela pessoa ter digitado aquelas três palavras visando aumentar meu engajamento e me ajudar de alguma forma. ao mesmo tempo, não sei se quero ajuda. não faz sentido pra mim ter comentários vazios, interações vazias. dai eu paro. respiro. fico bolada por não fazer parte de um grupo que eu nem sei se quero fazer parte. que eu nem sei se existe.

    tirei férias da minha vontade de produzir conteúdo. vontade não me falta, mas prefiro me dar esse tempo. acabei de apresentar tcc, tava há 1 ano sem ver a família. acho que preciso arranjar um jeito de lidar melhor com esse aplicativo. será que existe?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. manie!!! que bom te ver por aqui! <3

      é bizarro! a que ponto esse pensar exagerado pode chegar, num é?!
      são, no mínimo, dois lados, e a gente no meio tentando entender como fazer as coisas funcionarem. o de querer que o ig seja simplesmente uma ferramenta e o de ficar pensando sobre como os fragmentos de quem somos (qualquer coisa que venha daí) tão expostos lá e a "intenção" disso. é muito estranho. cansa mesmo! fico chateada por me desgastar com isso kkkkk às vezes dá vontade de insistir mais um pouco num lugar como aquele, justamente por esse potencial que tu fala. o fogo é que além de todas as questões mirabolantes de sistema, é um formato muito específico de registro. talvez isso de personalização limitada possa gerar tanta inquietação. a gente tentando encaixar. não é como um blog, por exemplo. tô contigo nessa de tentar lidar melhor com o aplicativo. o que muitas vezes me faz ficar por lá, bem mais como espectadora, é saber que existe gente falando de como se relaciona com a vida através de coisas tipo a leitura, por exemplo. de um jeito íntimo e verdadeiro, como tu. não sei se me interessa um caminho alternativo a esse!

      Excluir

Postar um comentário